Você sabia que muitas pessoas têm medo de ir ao dentista? A odontofobia é mais comum do que a gente imagina, tanto que uma pesquisa da Associação Americana de Odontologia indicou que 3, a cada 10 adultos, sofrem com este problema.
Estes números, inclusive, mostram que o medo de ir ao dentista é um dos motivos pelos quais as pessoas com fobia de dentista acabam descuidando da saúde bucal, o que pode agravar e acarretar problemas bucais, como periodontite e perda dos dentes, no longo prazo.
O uso de implantes osteointegrados alterou de forma irreversível o planejamento das reabilitações protéticas, oportunizando função e estética de alta qualidade para pacientes que, no passado, não teriam na Odontologia opções terapêuticas que pudessem atingir tal objetivo (LANG; SALVI, 2010).
No entanto, apesar dos avanços científicos, tecnológicos e do aperfeiçoamento das técnicas, o tratamento odontológico continua sendo visto pelos pacientes como um procedimento não prazeroso ou agradável. Ainda é comum se defrontar com pessoas extremamente ansiosas ou apreensivas, algumas delas tomadas de verdadeiro pânico ou e fobia ao sentarem na cadeira do dentista.
Podemos afirmar que existe uma associação direta entre o medo e saúde bucal deficiente. Isso pode ter sido decorrente da menor freqüência de procura por tratamento odontológico pelos pacientes com medo de ir ao dentista.
Normalmente, os pacientes ansiosos esperam longos períodos para marcar uma consulta e, não raramente, a cancelam. Entre as causas que fizeram o paciente não ir ao dentista, 36,9% relataram que desistiram da consulta odontológica por medo.
Ansiedade e medo podem gerar alguns sinais, como palidez da pele, transpiração excessiva, aumento da frequência respiratória, palpitação cardíaca, sensação de formigamento ou tremores das extremidades, entre outros. De acordo com Eduardo Dias de Andrade (2014), diversos fatores podem ser considerados como geradores de ansiedade na clínica odontológica como:
- Experiências negativas do próprio paciente em consultas anteriores.
- Intercorrências negativas relatadas por parentes ou amigos.
- Visão do dentista paramentado (gorro, máscara, luvas, óculos de proteção etc.).
- Visão dos instrumentos (seringa, agulha, fórceps, cureta etc.).
- O ato da anestesia local.
- Visão de sangue (pode levar ao desmaio).
- Vibrações e sons provocados pelos motores/turbinas.
- Comportamentos ríspidos ou movimentos bruscos por parte do dentista.
- Sensação inesperada de dor.
Reações desagradáveis apresentadas pelo pacientes com altos níveis de ansiedade (medo) podem dificultar ou até mesmo inviabilizar uma técnica cirúrgica (como um implante dentário) ou qualquer um outro procedimento.
Mas, como controlar a ansiedade para que o tratamento odontológico seja um ato mais prazeroso ou menos desagradável?
Os métodos de controle da ansiedade podem incluir ou não medicamentos. Entre os métodos não farmacológicos (sem medicação) estão:
- Conversa entre o profissional e o paciente onde o mesmo é informado sobre todos os procedimentos a serem realizados. Nesta o paciente deve sentir segurança em realizar o procedimento.
- Técnicas de relaxamento.
- Técnicas de de condicionamento psicológico.
- Métodos por meio de sons ou imagens para relaxar e distrair a atenção do paciente.
- Impedir que o paciente veja sangue ou instrumentos que possam gerar medo.
Quando esses métodos não são suficientes o bastante para controlar a ansiedade e o medo do paciente, deve-se lançar mão de métodos farmacológicos de sedação como medida complementar, geralmente na grande maioria dos casos a sedação mínima é suficiente.
Para a sedação mínima, fazemos o uso de benzodiazepínicos como a primeira escolha. Apesar da comprovada eficácia e segurança clínica, muitos pacientes ainda apresentam certa resistência e insegurança com relação à medicação.
Esta medicação é altamente segura pois sua ação ansiolítica se dá pela potencialização dos efeitos inibitórios de um neurotransmissor (GABA), produzido pelo próprio organismo. Tomando como exemplo o diazepam, suas doses tóxicas (250-400 mg) são muito maiores se comparadas às doses terapêuticas utilizadas em adultos (5- 10 mg).
Além de controlar a ansiedade, os benzodiazepínicos apresentam outras vantagens, como a redução do fluxo salivar e do reflexo do vômito e o relaxamento da musculatura esquelética. Além disso, quando empregados como pré-medicação em hipertensos, ajudam a manter a pressão arterial em níveis seguros. Também são úteis para prevenir intercorrências em pacientes com história de asma brônquica ou distúrbios convulsivos.
Em pacientes muito ansiosos, que poderão ter dificuldade em dormir na noite anterior às consultas, a primeira dose pode ser tomada ao deitar, com o objetivo de proporcionar um sono tranquilo, sendo repetida no dia do atendimento.
Enfim, é de grande importância o conhecimento e a interação entre paciente e profissional no controle da ansiedade e do medo para que a realização e a manutenção dos procedimentos odontológicos sejam realizados.
Referências
1- ANDRADE, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. São Paulo, Artes Médicas, 2014.
2- B. Palermo TM, Valenzuela D, Stork PP. A randomized trial of electronic versus paper pain diaries in children: Impact on compliance, accuracy, and acceptability. Pain 2004; 107(3):213-219.
3- Erlandsson AL, Backman B, Stenstrom A, Stecksen- -Blicks C. Conscious sedation by oral administration of midazolam in paediatric dental treatment. Swed Dent J. 2001;25(3):97-104.
4- Kaakko T, Getz T, Martin MD. Dental anxiety among new patients attending a dental school emergency clinic. J Dent Educ 1999;63:748-52.
5- Lang NP, Salvi GE. Implantes na Odontologia Restauradora. In: Lindhe, J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010. p. 2116-2127.
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7- Shapira J, Kupietzky A, Kadari A, Fuks AB, Holan G. Comparison of oral midazolam with and without hydroxyzine in the sedation of pediatric dental pa- tients. Pediatr Dent. 2004;26(6):492-6.