Implante dentário dói?

Um dos motivos que impedem um grande número de pacientes de se submeterem a um tratamento com implante dentário é o medo de sentirem dor.

A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, relacionada com lesão tecidual real ou potencial, segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor. Pressupõe-se então a existência de dois componentes, a sensação dolorosa (nocicepção) e a reatividade emocional a dor.

A nocicepção é a atividade do sistema nervoso aferente, induzida por estímulos nocivos, que podem ser exógenos (mecânico, químico) e endógenos (inflamação).

Sua recepção se dá pelos nociceptores, em seguida os estímulos são conduzidos através de vias nervosas periféricas sensitivas até o sistema nervoso central, onde no tálamo e no córtex se faz a integração da sensação dolorosa. O cérebro modula a dor através de vias eferentes inibitórias, de modo que a sensação resulta desses dois processos antagônicos (WANNMACHER; FERREIRA, 2005).

A reatividade emocional à dor corresponde à interpretação afetiva dessa sensação, de caráter individual e influenciada por estados ou traços psicológicos, experiências prévias e condições culturais, sociais e ambientais. Esses fatores podem filtrar, modular ou distorcer a sensação dolorosa (WANNMACHER; FERREIRA, 2005).

 Podemos dividir em 3 etapas distintas onde há possibilidade de dor relacionada ao implante:

  • Durante o procedimento cirúrgico
  • No pós-operatório imediato
  • Após a cicatrização

Medidas para evitar a dor ao colocar um implante dentário

Sendo assim, descreveremos a seguir as medidas que tomamos para evitar a dor em cada uma destas etapas:

  1. Durante a cirurgia:

Um dos fatores que geram dor durante o procedimento é a ansiedade. Em todas os nossos procedimentos, lançamos mão de métodos para controle da ansiedade que muitas vezes inclui medicação como bezodiazepínicos, além de fitoterápicos etc. Também utilizamos métodos de anestesia local sem dor como anestesia eletrônica, onde o volume de anestésico injetado é controlado eletronicamente, o que gera grande conforto para o paciente já no início.

Em casos mais extremos onde o paciente apresenta fobia, podemos lançar mão da sedação endovenosa. Ela permite a diminuição do nível de consciência do paciente no momento em que ocorre o procedimento cirúrgico. Mas a sedação não afeta a capacidade de respirar e responder à estimulação física e comando verbal.

Um médico anestesiologista aplica o medicamento sedativo por via endovenosa antes do procedimento. O paciente então adormece, mas é continuamente acompanhado pelo médico e aparelhos de monitoramento. Na prática, para o paciente é como um sono profundo e relaxante. Na maioria das vezes, não há recordações dos procedimentos. O paciente acorda somente com os procedimentos finalizados, e o médico continua acompanhando sua recuperação, até que ele possa sair caminhando da sala. O procedimento se torna simples, bem como confortável para o paciente, pois ao acordar todo o trabalho já foi feito.

As cirurgias também são realizadas com instrumentos adequados (delicados) de forma não traumática. Além disso, podemos realizar a cirurgia de forma guiada. Trata-se de uma técnica minimamente invasiva, cirurgia sem incisões e descolamentos de fibromucosa, o que torna o procedimento “menos traumático.”

  1. Pós-operatório imediato:

Para um pós operatório confortável, realizamos diversas medidas como: Protocolo medicamentoso sugerido pela ADA, onde o paciente faz uso de antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos. Além disso, o paciente já recebe uma bolsa de gelo para aplicação imediata ao término do procedimento. Também explicamos e entregamos por escrito uma série de orientações pós operatórias com o tipo de alimentação que o paciente deve realizar nos primeiros dias, como ele deve se comportar com relação ao trabalho e atividades físicas, além, é claro, do nosso contato pessoal para possível emergência.

Os cuidados tomados durante a cirurgia (menos traumática), também refletem de forma direta no pós operatório. Na cirurgia guiada, sem a necessidade de cortes na gengiva e, consequentemente, sangramento e suturas, o tempo da cirurgia é bastante reduzido, bem como o pós operatório é muito mais confortável e seguro , com menos inchaço, menos dor e com uma cicatrização muito mais rápida. Até mesmo a quantidade de anestesia  local necessária é menor.

  1. Após a cicatrização

Eventuais problemas podem ocorrer devido a infecções, principalmente devido à má higiene bucal. Entretanto, isso pode ser evitado, na maioria das vezes, por meio do correto planejamento do caso pelo profissional e da colaboração do paciente devido à higiene diária e ao comparecimento às consultas de manutenção.

Neste momento, podemos separar os  principais problemas que geram dor em 3 grupos:

  • A –  No primeiro grupo, a pessoa tem inflamação na mucosa ao redor dos implantes causada pela mobilidade da prótese (dente bambo) mas não apresenta perda tecidual. Essa movimentação permite que fluidos orais contaminados entrem no espaço entre o pilar e o implante. Esse fluido contém bactérias que causam a inflamação. Dentro desse grupo, o simples apertamento do parafuso e ajuste oclusal (desgaste da coroa se esta estiver alta), na grande maioria das vezes, resolve o problema momentaneamente.
  • B – O segundo grupo é formado por casos cujas peças não apresentam mobilidade mas a gengiva encontra-se avermelhada e a pessoa relata dor, porém nesses pacientes também não ocorre perda tecidual importante. O que ocorre nesse grupo é que a junção entre o pilar e o implante está inflamada, ocorrendo, muitas vezes, devido ao mal posicionamento do implante, dificultando a higiene pelo paciente. A solução inicial  deve ser correção profética quando possível e orientações ao paciente de como cuidar dessa região.
  • C – O terceiro grupo compreende aqueles pacientes que foram acometidos pela mucosite (inflamação dos tecidos ao redor do implante sem perda óssea) ou peri-implantite (inflamação nos tecidos ao redor do implante já com perda óssea). Nesses casos, o que ocorre é uma contaminação parcial ou total da superfície do implante. O tratamento pode ser a descontaminação da superfície do implante e orientações de como higienizar a região. Em casos mais severos, a remoção e instalação de um novo implante é a melhor alternativa.

Fica a dica: Tão quanto a execução da técnica cirúrgica dos implantes, se faz de suma importância o planejamento adequado e sobretudo o acompanhamento pelo profissional ao longo dos anos.

REFERÊCIAS:

Wannmacher L, Ferreira MBC. Princípios gerais do correto tratamento da dor. In: Farmacologia Clínica para Dentistas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. p. 147-153.

ANDRADE, E. D. Terapêutica medicamentosa em odontologia. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2014. 256 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Bulário eletrônico. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/bulario-eletronico1>. Acesso em: 03 jan. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos.

Relação Nacional de Medicamentos Essenciais: RENAME. Brasília. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/medicamentos_rename.pdf> Acesso em 29 mai. 2019. FERREIRA, J. N.; FIGUEIREDO, R. Prevention and management of persistent idiopathic facial pain after dental implant placement. J. Am. Dent. Assoc., London, v.144, n.12, p.1358-1361, Dec. 2013.