O pós-operatório corresponde ao período de tempo compreendido entre o término da cirurgia e a plena recuperação clínica do paciente relativa às alterações determinadas pelo ato cirúrgico em si, independentemente da evolução do estado mórbido inicial. As medidas pós-operatórias têm como finalidade a minimização do trauma decorrente do ato cirúrgico em si, como o controle da dor, do edema, da hemorragia, da prevenção de infecção e, principalmente, de favorecer a evolução da ferida cirúrgica e normalização da função. O pós-operatório é uma das etapas mais importantes para o êxito da cirurgia.
A intensidade da reação inflamatória está na dependência direta do tipo de cirurgia realizada, da manipulação dos tecidos, terapêutica medicamentosa utilizada e da resposta individual.
Outras variáveis podem ainda influenciar o pós-operatório.
As principais orientações após cirurgia oral são:
1- Evitar exposição ao sol, alimentos quentes, fumar e outras formas de calor
O uso de alimentos quentes e a exposição ao calor podem ocasionar vasodilatação, o que pode causar desorganização do coágulo resultando em quadros de hemorragia. Além disso, no período inicial pode levar a uma maior formação de edema podendo resultar em dor.
2- Evitar esforços físicos
Esforços físicos, como a prática de atividades físicas, devem ser evitados, visto que podem acarretar uma circulação mais acelerada e, consequentemente, aumento da pressão arterial, podendo acarretar também em hemorragia, edema e dor.
3- Evitar alimentos duros
Uma alimentação mais branda e fria, além de permitir repouso local da ferida cirúrgica, minimiza o sangramento pós-operatório natural e, consequentemente, diminui a probabilidade de quadros hemorrágicos. Geralmente recomenda-se por um período mínimo de 48 horas. Dependendo do procedimento, esse período deve ser estendido por mais alguns dias. Moderadamente, o paciente vai retornando à sua alimentação normal com o passar dos dias.
Alimentos duros em contato com a ferida cirúrgica podem trazer danos ao coágulo e consequente hemorragia.
4- Descansar e dormir com a cabeça mais elevada
Quanto menos o paciente abaixar a cabeça no período pós-operatório, menor é o fluxo sanguíneo para a região operada. Em consequência, menores são as chances de edemas ocorrerem.
5- Não escovar a região operada por 48 horas (escovar as outras regiões normalmente)
A suspensão da escovação na região operada deve ocorrer a fim de evitar qualquer trauma na região. Alguns pacientes, pela própria dificuldade em abrir a boca no período pós-operatório, ficam receosos em realizar a higienização bucal. Após o período de 48 horas, pode retornar com a escovação de forma bem suave.
O acúmulo exagerado de placa bacteriana (restos alimentares) sobre a região operada propicia condições favoráveis para proliferação microbiana e, em consequência, infecções pós-operatórias podem ocorrer.
6 – Não fazer bochechos nas primeiras 24 horas
Neste período, pode limpar suavemente a região operada com uma gaze embebida em anticéptico. Após 24 horas, fazer bochechos leves e passivos 2 vezes ao dia até no máximo 2 semanas após.
O uso de antissépticos bucais no período pós-operatório contribui para manutenção da higiene bucal, controlando a microbiota normal da boca e aquela decorrente da cirurgia, pois todas as zonas onde há formação de coágulos são locais propícios para proliferação microbiana.
7- Fazer compressas com gelo no lado externo (rosto) nas primeiras 24 horas, durante 15 minutos e descansar 15 minutos
A utilização de compressas com gelo objetiva a vasoconstrição e, com isso, diminuir o sangramento e minimizar o edema. Deve ser aplicada na pele (proteger previamente com vaselina, ou creme hidratante especialmente em crianças), em áreas correspondentes à cirurgia. É indicada principalmente em situações de maior complexidade cirúrgica.
8- Passar cremes protetores nos lábios para mantê-los lubrificados, evitando ressecamentos
A manipulação cirúrgica, principalmente em cirurgias de terceiros molares, geralmente ocasiona pequenos traumatismos nos lábios devido ao uso dos afastadores. No período pós-operatório, a região pode ficar ulcerada e ressecada, causando incômodo ao paciente. A utilização no período pós-operatório de vaselina líquida ou cremes protetores objetiva lubrificar e proteger a região, principalmente as comissuras.
9- Caso haja febre alta, edema e dificuldade de abrir a boca por mais de três dias, dor persistente ou sangramento exagerado, entre imediatamente em contato
A febre, edema e dificuldade de abrir a boca podem indicar a ocorrência de infecção pós-operatória. Nessas situações, deve o cirurgião avaliar imediatamente o paciente, mesmo que não esteja ainda no período previsto para remoção de suturas.
Segundo Araújo et al., a febre discreta, em torno de 37,5°C, nas primeiras 24 a 48 horas pode ocorrer, sem significado com relação à infecção pós-operatória, sendo decorrente da reabsorção do hematoma e dos tecidos necróticos.
10- Caso ocorra sangramento, fazer compressa com gaze embebida em soro fisiológico sobre a região (suavemente) durante aproximadamente 10 minutos
A compressa com soro, se possível gelado, vai auxiliar na estabilização do coágulo, caso o sangramento continue, o cirurgião dentista deverá ser comunicado.
11- Seguir rigorosamente os horários e as medicações prescritas
O uso incorreto da medicação pode prejudicar os seus efeitos benéficos e trazer problemas ao paciente, desde a ineficácia do medicamento, desenvolvimento de colônias microbianas resistentes aos antibióticos (subdoses ou uso por um período curto) até a superdosagem (uso exagerado de analgésicos por exemplo).
A escolha de drogas que possam ser administradas em horários coincidentes facilitará o uso correto.
Conclusão:
O trauma cirúrgico origina, naturalmente, um processo inflamatório pós-operatório, com a liberação de mediadores químicos da dor e da inflamação, cujo aspecto clínico pode apresentar-se como edema e/ou trismo, além de certo grau de desconforto. Este estado não necessariamente é sinônimo de insucesso cirúrgico. Cuidados pós-operatórios adequados recomendados pelo cirurgião são de fundamental importância.
REFERÊNCIAS
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